Porto debate como usar a Natureza para adaptar as cidades às alterações climáticas e mostra exemplos concretos daquilo que está a ser feito na cidade

No dia 31 de outubro, cerca de 70 pessoas assistiram à conferência “Como usar a Natureza para adaptar as cidades às alterações climáticas?”, realizada no Porto Innovation Hub no âmbito do projeto LIFE-myBUILDINGisGREEN. Durante a tarde os participantes tiveram ainda a oportunidade de visitar, no terreno, uma das soluções inovadoras e sustentáveis da cidade, que serve de exemplo do que o Porto está a fazer nesta matéria – o projeto com coberturas verdes instalado na Escola Básica do Falcão, em Campanhã.

Na sessão de abertura Filipe Araújo, Vice-Presidente do Município do Porto e Vereador dos Pelouros do Ambiente e Transição Climática, recordou que, numa Europa cada vez mais urbanizada e a sofrer os impactos das alterações climáticas, “encontramos na Natureza as soluções para alguns dos problemas que estamos a ter”.

As soluções baseadas na natureza, além da adaptação às alterações climáticas, permitem promover a biodiversidade, respeitar o ciclo natural da água na cidade, aumentar a capacidade de armazenamento de carbono, valorizar os solos, reduzir o consumo de energia, tornando as cidades mais agradáveis e mais confortável para todos os seus residentes e utilizadores. Filipe Araújo deu assim o exemplo de soluções implementadas na Escola do Falcão, em Campanhã: “são 700 m2 de coberturas e fachadas verdes, além de painéis fotovoltaicos”.

Filipe Araújo durante o seu discurso © Câmara Municipal do Porto

Na conferência foram ainda abordados outros projetos da cidade criados para a resiliência às alterações climáticas, como o novo Parque da Alameda de Cartes, desenhado de forma a promover a biodiversidade e valorização ecológica da paisagem urbana, a promoção de conforto microclimático e o aumento da qualidade de vida e de segurança da população residente.

Como aumentar a permeabilidade das cidades? Foi uma das questões lançadas por José Lameiras, Professor Auxiliar na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, referindo que, “as áreas urbanas vão ser as mais afetadas pois é aqui que existe a grande impermeabilização do solo. Todas as cidades devem aumentar a permeabilidade do solo para que a água possa penetrar nos lençóis freáticos, evitando desde logo cheias superficiais em alturas de chuvas torrenciais e garantindo que essa água está disponível para que as árvores a possam bombar para a atmosfera no verão, refrescando o ambiente através do fenómeno da evapotranspiração”. Neste sentido, deu o exemplo do Parque da Asprela, que pode reter e abrandar 10.000 m3 de água em chuvadas intensas, correspondente ao volume do Edifício Transparente. Na sua apresentação, José Lameiras demonstrou que na cidade do Porto 25 % do espaço urbano está dedicado aos edifícios e 32 % aos espaços verdes. Os restantes 43 % da cidade estão dedicados a estradas, vias de circulação e áreas pavimentadas. Neste contexto relembrou a importância do Plano Municipal de Arborização, um documento estratégico, que tem como um dos seus principais objetivos melhorar o espaço da arborização pública sustentável da cidade.

José Lameiras durante o seu discurso © Câmara Municipal do Porto

Paulo Palha, Presidente da Associação Nacional de Coberturas Verdes, foi também um dos oradores desta sessão, e alertou para a necessidade de potenciar as coberturas dos edifícios, tendo sido no Porto identificados até à data 131 coberturas verdes. “Não existe ainda nenhuma máquina que faça aquilo que a vegetação faz por nós e pelo planeta”, reforçando a necessidade de usar as coberturas verdes no edificado urbano.


Paulo Palha durante o seu discurso © Câmara Municipal do Porto

Esta conferência contou ainda com a participação de Miguel Vega, do Consejo Superior de Investigaciones Científicas e coordenador do projeto LIFE-myBUILDINGisGREEN, que explicou o que foi feito na Escola Básica do Falcão. O investimento foi financiado pelo programa LIFE, e teve como o objetivo melhorar a qualidade de vida de quem diariamente trabalha e estuda na EB1 do Falcão.


Miguel Vega durante o seu discurso © Câmara Municipal do Porto

Neste encontro participou ainda Andrea Gonçalves, da Unidade de Ambiente e Desenvolvimento da CIMAC – Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, que apresentou o projeto homólogo, de Soluções Baseadas na Natureza, aplicado na Escola da Horta das Figueiras, em Évora.


Andrea Gonçalves durante o seu discurso © Câmara Municipal do Porto

No final da manhã, foi demonstrado como a cidade do Porto faz a sua abordagem às Soluções Baseadas na Natureza. Pedro Pombeiro, Diretor do Departamento Municipal de Planeamento e Gestão Ambiental do Município do Porto, fez uma “radiografia da cidade” enfatizando que neste momento se conhece onde está a população mais vulnerável da cidade, sendo fundamental adaptar os edifícios e o território para proteger estas pessoas de fenómenos climáticos extremos. Destacou ainda que o Município do Porto tem vindo a proceder ao aumento da superfície permeável da cidade, à reabilitação de linhas de água e à duplicação dos espaços verdes, com a preocupação de favorecer os efeitos de retenção e infiltração de água nos espaços verdes (por exemplo no Parque Oriental, no Parque da Cidade, no Parque da Asprela e no Novo Parque da Alameda de Cartes), de amortecimento do impacto das águas da chuva nas coberturas (como no Terminal Intermodal de Campanhã, com a instalação da maior cobertura verde da cidade), de proteção do solo (como as 3.042 árvores nativas já plantadas em nós da VCI e das 9.964 árvores oferecidas aos munícipes do Porto), entre outros.


Pedro Pombeiro durante o seu discurso © Câmara Municipal do Porto

Pedro Pombeiro reforçou ainda a necessidade de apoiar os promotores de projetos imobiliários de várias escalas na implementação de soluções de base natural no edificado. Para isso a cidade está a ultimar uma ferramenta específica – o Índice Ambiental do Porto, previsto no PDM – que visa incentivar os promotores de projetos de recuperação, reabilitação e construção a potenciar o uso de soluções de base natural nos projetos.


Os oradores respondem a perguntas do público © Câmara Municipal do Porto

À tarde, os participantes visitaram a Escola do Falcão. Em parceria com a Agência de Energia do Porto, os técnicos de ambiente mostraram no terreno, as caraterísticas, funções e benefícios das coberturas e fachadas verdes, e explicaram o funcionamento e benefícios dos painéis fotovoltaicos.

No rés-do-chão da escola, foi possível observar uma solução baseada na natureza, desta vez uma fachada verde que assegura o sombreamento das salas de aula durante os dias mais quentes.

Já na cobertura os participantes puderam perceber o funcionamento e constituição da cobertura verde, uma espécie de jardim em vez de telhado. Estes jardins em altura têm a vantagem de regular a temperatura no interior dos edifícios ao longo do ano e, ao mesmo tempo, contribuir para que a água das chuvas possa infiltrar-se mais lentamente nos solos, evitando inundações. No caso da escola do Falcão existem três tipologias de coberturas verdes: uma cobertura extensiva inclinada, uma cobertura instalada sobre lâminas de cortiça (tecnologia GUL) e um “bio solar roof”, que junta os benefícios dos telhados verdes à produção de energia em painéis fotovoltaicos. A esta solução, acresce a vantagem de a presença das plantas dar um contributo positivo para a eficiência da produção de energia. Neste momento, cerca de 60% da energia consumida na escola é produzida localmente.


Visita à EB1 Falcão © Câmara Municipal do Porto

O encontro destinou-se principalmente a técnicos municipais, arquitetos e projetistas, promotores de projetos urbanísticos, docentes e alunos universitários da área da arquitetura e arquitetura paisagista.

Para ficar a par de todas as novidades relacionadas com o LIFE-myBUILDINGisGREEN, recomendamos que siga os canais Twitter e LinkedIn do projeto.

Categorias Notícia